As crianças estão constantemente a
mexer-se e a interagir com o seu mundo. Tudo para elas é novo e é seu papel
serem curiosas, explorarem e aprenderem. Nada está fora de limites. Se o seu
filho ainda é pequeno, então ainda não aprendeu (do mundo que o rodeia) a ter
consciência dos seus próprios actos e a restringir o seu comportamento. Com
esta curiosidade maravilhosa vem o desejo dos nossos filhos de nos
‘provocarem’.
‘Provocar-nos’ é a forma de os nossos
filhos explorarem as nossas reacções aos seus comportamentos. O que faremos se
eles atirarem água para o chão, ou se dançarem em frente à televisão enquanto
vemos o nosso programa preferido? Será divertido? Tudo isso é sobre descobrir
sobre nós. Podemos até estar a dar-lhes uma boa razão para continuarem a
‘provocar-nos’, porque as nossas reacções podem ser engraçadas e divertidas.
Podemos gritar, andar aos pulos, falar numa voz esganiçada, ficar encarnados,
ou enrijecer de raiva. Para eles, podemos ser tão engraçados quanto o são os
seus desenhos animados predilectos.
Quando eu era mais nova sabia exactamente
como conseguir uma reacção engraçada do meu Pai. Só era preciso que eu tivesse
um ataque de riso durante o jantar para garantir a reacção dele. Ele
apontava-me o dedo, endurecia a cara e falava em voz severa, fazendo ameaças
com todo o tipo de consequências… as quais eu não queria, mas absolutamente
adorava provocar o seu comportamento previsível. A minha irmã e eu dizíamos que
a reacção dele era de “efeito baloiço”. Sendo um homem grande, todo o seu corpo
baloiçava quando ele se zangava e, não obstante as consequências do meu
comportamento, eu achava suficientemente divertido continuar a ‘provocá-lo’.
Quase todas as crianças com quem trabalhei
‘provocaram’ a dada altura. Algumas passaram imenso tempo a ‘provocar’ e outras
fazem-no só pontualmente. ‘Provocar’ é normalmente algo que o seu filho faz
mesmo sabendo que você não quer que ele faça. Pode ser fazer xixi no chão em
vez de na retrete, desenhar na parede, atirar comida, verter água, cuspir, dizer
palavrões, meter o dedo no nariz e comer, atirar um brinquedo ou parti-lo, ou
tocar em si de forma que você não quer, tal como enredar o dedo no seu cabelo
ou tocar-lhe no peito.
‘Provocar’ também pode ser falar de coisas
sobre as quais você não se sente à-vontade. Eu trabalhei com uma família que
tinha um filho de 6 anos com autismo. Toda a família era vegan – não comiam
produto animal nenhum, e preocupavam-se bastante com o bem-estar dos animais.
Este menino adorava falar sobre comer carne. Ele falava sobre comer um “bife
suculento de carne animal” e lambia os lábios enquanto olhava atentamente para
a reacção da família. Eles ficavam horrorizados – acreditavam que tinham
falhado na passagem dos seus próprios valores ao filho. Eu não acredito que este
garoto quisesse comer carne, ele apenas queria ver as reacções horrorizadas da
família dele.
Trabalhei com outro rapaz que, devido às
suas alergias alimentares, estava numa dieta sem glúten nem caseína. Ele
contava à mãe que tinha acabado de comer glúten ou caseína. E depois
encostava-se e sorria enquanto ela gritava e lhe pregava um sermão sobre como
isso não era uma coisa boa; ele adorava ver a reacção da mãe.
Outra rapariga de 16 fazia perguntas tais
como: “Quando é que eu vou morrer?”, “Quando é que tu vais morrer?”. Estas
perguntas perturbavam muito as pessoas que tomavam conta dela.
Porque é que as nossas Crianças
‘Provocam’?
1. É divertido! Tão simples
quanto isso. Nós podemos ser muito divertidos para os nossos filhos. As
nossas reacções por vezes podem ser desproporcionadas em relação ao que
verdadeiramente a nossa criança tenha feito. Todos nós já nos afastámos do
nosso filho perguntando a nós mesmos: “Por que é que eu reagi assim?”. É esta
reacção exagerada que as nossas crianças começam a procurar interminavelmente.
Todos nós já ‘provocámos’ outros também. Nós fazemos isso, não só enquanto
crianças, mas também como adultos. Porquê? Porque achamos que a reacção é
engraçada.
2. Sentem-se
poderosos. Quando as nossas crianças se apercebem de que conseguem uma
reacção da nossa parte, não só isso é engraçado, mas também lhes dá um sentido
de poder. As nossas crianças começam a aperceber-se de que agora podem “fazer”
o outro reagir. Com este novo poder agora encontrado, vem a previsibilidade e o
controlo. Ganhar controlo sobre as suas vidas é muito importante para as nossas
crianças – por isso este ‘provocar’ torna-se numa outra forma de conseguir este
controlo. De cada vez que faço “x”, a Mãe faz “y”.
3. Estão a tornar-se mais
interactivos. Se achar que o seu filho está a passar por um período
particularmente intenso em ‘provocações’, pode ser devido a se ter tornado
menos exclusivo (n.t. fechado) e estar a crescer na sua capacidade de
interagir. Quando uma criança autista se torna mais consciente do seu ambiente,
começa a reparar que o que faz pode fazer com que outra pessoa reaja de uma
certa maneira. Se for este o caso do seu filho, é uma altura entusiasmante e
importante para o seu crescimento.
4.Estão
enfadados. ‘Provocar’ também pode ser um sinal de enfado. Se o seu filho
aumentou o grau de ‘provocação’, pode ser um sinal de estar a ser pouco
estimulado. Está a ‘provocar’ como forma de entretenimento por não ter nada
melhor para fazer. Muitas vezes os programas escolares ou os programas de
ensino doméstico podem tornar-se estagnados. À medida que o seu filho cresce,
terá cada vez maior necessidade de actividades e oportunidades de aprendizagem
cada vez mais interessantes e de maior desafio. Reavalie o programa do seu
filho para ver se será este o caso.
Como identificar que se trata de
‘Provocar’?
Como foi descrito acima, ‘provocar’
consiste normalmente em o seu filho fazer uma actividade que sabe que você não
quer que ele faça. Contudo, só isto não chega para definir esta expressão. As
nossas crianças podem envolver-se em muitas atividades interessantes fora do
comum que você pode não querer que elas façam, sem que isso signifique
necessariamente que todas elas sejam ‘provocações’. Por exemplo, o seu filho
pode desenhar nas paredes… Ele sabe que você não quer que ele faça isso, mas
fá-lo de qualquer maneira. Isto pode ser ‘provocar’, mas também pode ser algo
que o seu filho acha irresistível. Portanto, não seria o caso de ‘provocar’
mas, em vez disso, algo que faz para si próprio, não para obter uma reacção
sua. A chave a procurar é: “onde está a motivação dele?”. Se a atenção do seu
filho estiver na actividade presente, o mais provável é que NÃO esteja a querer
‘provocá-lo’. Se a atenção do seu filho estiver em si e na sua reacção à
actividade, o mais provável é que esteja a querer ‘provocá-lo’. Procure os
seguintes sinais:
- Olha para si durante a actividade?
- Olha para si logo após a actividade?
- Anuncia-lhe que acaba de fazer a actividade?
- Sorri ou ri-se com a sua reacção ao que acaba de
fazer?
- Repete logo a seguir a você lhe pedir que não o
faça, olhando para si?
Como responder quando nos ‘provocam’?
Deixe de ter pontos sensíveis, e isso vai
mudar a sua reacção
As nossas crianças ‘provocam-nos’ para
explorar a nossa reacção à acção delas. Quando a nossa reacção lhes é
interessante, elas continuam. A forma mais rápida de fazer com que o seu filho
pare de o ‘provocar’ é deixar de ter pontos sensíveis, e mudar a sua reacção.
Você vai querer fazer isto tanto a nível interno como a nível externo. Muitas
vezes os pais dizem-me que estão furiosos com os filhos, mas que conseguiram
não o mostrar. Muito pouco provável! Se você está de facto furioso, isso
aparecerá no seu rosto e na sua linguagem corporal. As nossas crianças são
mestres na detecção da nossa atitude. Elas sabem quando nos sentimos furiosos
ou desconfortáveis (incomodados). Nós não as conseguimos enganar. Por isso,
sim, é muito importante mudar a nossa reacção exterior, mas também os nossos
pensamentos e sentimentos interiores.
Como reagir externamente?
A ideia é reagir o menos possível. Por
exemplo, se o seu filho gosta de ‘provocar’ deitando água para o chão, não dê
ao facto nenhuma atenção. Não reconheça nem verbal nem fisicamente que o facto
de ele ter deitado água para o chão tem importância para si. Se estiverem a
jogar juntos um jogo, continue com o jogo. Se estiverem a conversar, continue a
conversa. Se estiverem envolvidos em alguma actividade, continuem com essa
actividade. Mostre-lhe que entornar água para o chão não o afecta
emocionalmente. Espere uns minutos antes de limpar o chão. Pode ser você a
limpar a água, ou até pode pedir ao seu filho que o faça. Se o seu filho
estiver a falar consigo sobre um assunto que você já antes tinha achado
desafiante, responda às perguntas dele sobre o tema de uma forma calma e
ligeira.
Pergunta: Podes especificar como reagir
externamente quando nos ‘provocam’ com comportamentos sexuais, tais como
querendo dar beijos na boca?
Becky: Este será um momento em que vai
querer estabelecer limites de uma forma amorosa e sem julgamentos que ajudará
esta criança em particular a saber que você não lhe permitirá mais fazer isso.
Assim, o primeiro passo é sentir-se muito confortável e calmo sabendo que ele
está a fazer o melhor que pode para alcançar o que quer. Então, com uma energia
não-reativa e sem nenhum empolgamento (ou seja, inerte) pode explicar docemente:
“Vou pedir-te que não me toques dessa maneira/ beijes na boca porque este é o
meu corpo”. Depois lentamente afasta-se, colocando uma bola de Pilates ou uma
almofada grande entre si e a criança no caso de esta persistir.