Susana Lopes:
Olá Becky, eu gostava de saber a tua opinião
sobre o seguinte: A minha filha Carolina tem quase 13 anos e está no nível 5 do
Modelo de Desenvolvimento Son-Rise (temos 3 áreas “difíceis” a alcançar:
comunicação não verbal – ainda lhe é difícil compreender a linguagem corporal
social; comunicação verbal - quando em interação com mais do que uma pessoa, na
iniciação de conversação adequada ao contexto social; e, para ela, é um desafio
envolver-se em situações da vida normais para a sua idade; prestar atenção a um
horário, ir às compras ao supermercado; comportamentos sociais numa loja…
Muitas coisas ainda por trabalhar, mas já foram dados passos enormes desde que
começámos há 3 anos. A minha questão é: devemos manter o playroom ou devemos
sair com ela e vivenciar com ela todas estas coisas explicando-lhe como se
processam?
Madalena Costa Ferreira:
Este assunto também me é importante. Não
obstante a sua idade (18) parece ser mais fácil envolvê-lo na atitude Son-Rise
fora de casa, na rua onde tentamos ensinar-lhe as coisas básicas e simples. Por
exemplo, ensinámo-lo a apanhar o metro e ele fá-lo, mas apenas de uma estação
para a outra, e sempre a mesma. Na escola ele começou a interagir com os
colegas pela primeira vez. Mas não sabe como iniciar uma conversa ou falar
sobre qualquer assunto fora do seu (único) interesse. Estes passos são pequenos
demais, mas mesmo assim ele aprende. Devemos manter apenas a abordagem fora de
casa ou insistir dentro de casa? (desculpem este longo “post” mas parece que a resposta à Susana poderá ajustar-se
parcialmente ao meu filho). Obrigada Becky.
Becky:
Olá Susana,
Boa pergunta! A beleza do playroom é que tanto
a Carolina como tu própria têm muito maior controlo com muito poucas
distracções, tornando-o numa plataforma onde é mais fácil trabalhar, pois
quando se está fora de casa as coisas podem tornar-se imprevisíveis, há
restrições de tempo, pessoas a olhar fixamente ou a fazerem julgamentos, a
possibilidade de a Carolina fazer birra, etc., etc., etc. No playroom podes dar
muito maior controlo e ser muito mais flexível com ela sem toda a sobrecarga
sensorial do costume (p.ex. pessoas, trânsito, luzes, barulho, etc.), por isso
é mais viável para ela compreender ideias e ser aberta a orientações.
Eu faria uma mistura de algumas saídas por
semana, apoiando-a a cada passo, e teatralização no playroom, onde se simula
estar-se em cada um daqueles sítios. Por exemplo, digamos que queres levá-la ao
supermercado. Preparas o playroom como se de um supermercado se tratasse (p.ex.
carrinho de compras, dinheiro, traz algumas coisas da cozinha para servirem de
produtos de supermercado, etc.). Diz-lhe que estás a planear ir lá no dia
seguinte e que queres ajudá-la para saber fazer as compras sozinha e a
divertir-se com o passeio. Então, podes pedir ajuda ao Joe para fazer o papel
de outro cliente da loja, ou de caixa, etc. Podes simular todo o passeio, lista
de compras, pagamento, como agir com os outros compradores, o que dizer, etc. Dessa
forma podes ir ajudando-a ao longo do caminho e fazendo sugestões.
Depois vão fazer o passeio ao supermercado a
sério e tu vais recordando-a de tudo o que praticaram no playroom. Se ela tiver
dificuldades, podes tomar nota delas para depois praticarem outra vez na
próxima sessão de playroom ou na próxima semana. Nessa altura, podes ajudá-la
com a sua atitude nos momentos que tenha achado difíceis, inspirá-la a pensar e
a sentir de forma diferente e de que pode escolher agir de uma forma diferente
que será mais eficaz.
Madalena Costa Ferreira – Podes experimentar
fazê-lo fora de casa, mas seria realmente útil se conseguisses pelo menos
trabalhar com ele em casa com outra pessoa, servindo de exemplo de como agir, o
que fazer, etc. Explica abundantemente sobre como realmente o amas e queres
ajudá-lo a ser bem sucedido. Também queres ajudá-lo a compreender que quando
ele tem uma das suas crises tu não percebes o que ele quer e que é porque ele
está a actuar daquela maneira que tu o queres ajudar dentro de casa. Quanto a
ajudá-lo a falar com os outros miúdos, aqui está uma resposta que recentemente
publiquei no nosso quadro de mensagens sobre competências de conversação:
1) Partilhem
muita informação sobre vós próprios e sobre os vossos interesses nos mais
diversos momentos em que estão com o vosso filho como forma de o ajudar a
distender o músculo de escutar o outro e absorver informação. Por exemplo,
talvez estejam juntos no carro e vêem as vossas flores favoritas, podem dizer: “Ohhh,
lírios, são as minhas flores preferidas!” Até podem fazer disso um jogo vendo
se ele retém essa informação da próxima vez que passarem por lá dizendo “Lá estão
as minhas flores favoritas outra vez! Aposto que não te lembras de como se
chamam”.
2) Deixem
espaços vazios nas vossas conversas. Por exemplo, talvez ele esteja a falar de
carros e quando há uma pausa digam: “Nunca conseguirias adivinhar qual foi o
meu primeiro carro”. Isso ajudará a estimulá-lo a fazer perguntas pessoais aos
outros.
3) Usem
explicações, talvez quando estiverem a falar sobre comidas que gostam de comer,
possam descrevê-las de uma forma que não seja reveladora e então lembrá-lo do
que ele poderia dizer (por exemplo “então, no outro dia eu estava a almoçar o
meu prato favorito, e era a melhor sanduíche do mundo”… fazendo uma pausa para
lhe dar espaço para ser espontâneo, se ele não responder, explicar “normalmente
os meus amigos perguntam-me que tipo de sanduíche era”).
Um jogo que podem fazer é encontrar palavras
onde desenham uma grande grelha de 10x10 numa cartolina e pensam entre 10 a 20
palavras que podem listar de lado. As perguntas seriam uma mistura de perguntas
pessoais que ele pode fazer-vos e factos sobre os seus interesses. Depois
escrevem as respostas dentro da grelha e preenchem o resto dos espaços com
letras por forma a esconder as respostas. Façam com que os números um e dois
sejam sobre os seus interesses (p.ex. “esta foi a melhor prenda de anos que a mãe
já recebeu”, etc.). Então, juntos encontram as palavras e quando chega a altura
das perguntas pessoais e ele estiver à procura da resposta, podem lembrá-lo “Ei!
Eu sei de uma maneira muito fácil de chegar à resposta… podes perguntar-me!”).
Outra coisa que podem fazer, após terem
explicado que é mesmo giro ter amigos e que parte de se ser amigo é estarmos
interessados nas coisas uns dos outros, é brainstorm
(pensar em conjunto sobre) alguma frases que ele poderia dizer às pessoas para
que elas interagissem com ele. Até podem fazer uma lista e dar-lhe bastantes sugestões.
Parece que o desafio que ele encontra é no iniciar de uma interacção.
Estamos tão orgulhosos de quanto já ambas
evoluíram com os vossos filhos maravilhosos.
Com amor da Equipa Son-Rise!
Becky, Professora no Autism Treatment Center of America
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